Este projeto foi contemplado pela Fundação Nacional de Artes – FUNARTE no edital Bolsa Funarte de Residências em Artes Cênicas 2010.

sábado, 5 de março de 2011

MASK PLAYS




Olá amigos! Mais algum tempo se passou e aqui estou novamente para compartilhar a experiência do último workshop que finalizamos com Philippe Gaulier no dia 04/02/2011, o Mask Plays. Mas comecemos um pouco de antes. Como podem ver, o último tópico aqui retratado versou sobre o trabalho de Gaulier com a Máscara Neutra e a Tragédia. Não é à toa que a Máscara neutra está disposta no workshop anterior, porque, poderíamos pensar, ela é a base para as outras máscaras que trabalhamos no Mask Plays, e, na verdade, para todos os workshops seguintes. Le Jeu, a “base da base”, nos pedia diversão, prazer, noções de organização de cena, etc; tudo isso numa série de trabalhos que, digamos assim, lidavam com a construção de um ambiente “pré-teatral”. A Máscara Neutra agregou um componente a mais, a necessidade de manter aqueles princípios trabalhados em Le Jeu, porém com a busca de um grau de formalização no espaço-tempo maior, mas, importante lembrar, NUNCA a formalização por si, NUNCA a formalização como ponto de partida, mas sim, como um ponto onde se chega no desenrolar de cada exercício. A Tragédia nos possibilitou explorarmos uma primeira entrada no contexto teatral propriamente dito, na abordagem aos personagens, na construção de cenas, na apresentação das mesmas e etc... Depois deste período tivemos férias de 23 dias e no dia 10 de janeiro recomeçamos o trabalho com o Mask Plays.
E do que se trata o Mask Plays? Resumidamente este é um curso que nos permite uma incursão nos universos de diferentes estilos de máscaras: Máscaras Larvárias, Commedia Dell’Arte e em Máscaras que nós mesmos fizemos.




MASCARAS LARVÁRIAS

As Máscaras Larvárias são originárias do Carnaval de Basel, cidade do interior da Suíça. São máscaras grandes, com ângulos fortes (por vezes retos, por outras curvilíneos), silenciosas (máscaras de rosto inteiro, o ator não fala sob elas), sob as quais é quase impossível enxergar algo, porque as Larvárias possuem na maioria dois pequenos furos à altura dos olhos dos atores (as vezes estes furos são mais para baixo ou para cima, dependendo da máscara). No primeiro dia deste trabalho, durante o intervalo, Gaulier contou-nos (a história é mais ou menos essa) que um dia, ainda jovem, havia chegado à Basel para passar o carnaval... Era um final de tarde, o sol estava se pondo, e, de repente, quando se fez noite, um grupo de mascarados dobrou uma esquina, com roupas extravagantes e portando máscaras larvárias... Gaulier conta isso com um encanto no olhar, disse que foi surpreendente e lindo aquele momento em que pela primeira vez se deparou com as Larvárias. É provável que este fato tenha se dado antes de Gaulier ser aluno da escola de Jacques Lecoq, figura que trouxe as Larvárias para o contexto teatral e para o trabalho do ator.
Bem, no primeiro dia Philippe apenas pediu-nos para que escolhêssemos uma máscara e um para que cada um dos atores entrassem em cena, sem nenhuma proposta definida à princípio, mas apenas para aproximarmo-nos delas, e descobrir alguns de seus princípios na medida em que íamos atuando com elas e observando os colegas atuarem com as mesmas. Como em todos os momentos anteriores, os exercícios das máscaras também são sempre realizados em relação à platéia. Ao longo da incursão nas Larvárias, trabalhamos com alguns jogos, como o da Grandmother, uma espécie de “meia-meia-lua 1-2-3” (pra quem conhece...hehe), onde um ator se dispõe à frente e de costas aos demais atores mascarados, estes, por sua vez, objetivam tocar nas costas do ator da frente que vira em determinados momentos, quando então os demais atores devem estar imóveis. Este é um bom trabalho sobre a idéia de ponto fixo, todo o tempo reivindicada por Gaulier. Trabalhamos também com algumas propostas de improvisação mais abertas, como, por exemplo, uma dança das cadeiras onde o ator que ficasse sem sentar deveria realizar alguma coisa com a máscara, e, se aquilo fosse de alguma forma interessante (se o ator descobre e/ou entende algo sobre a máscara que porta), ele podia “salvar sua vida”, permanecendo no jogo. E também com algumas propostas improvisação mais fechadas, como, por exemplo, “As máscaras vão à ópera”, esta a partir de um roteiro não tão aberto que Gaulier forneceu para seguirmos, consiste numa confusão entre duas figuras, pois, uma delas, se senta num lugar de um teatro-ópera do qual a outra tem o ingresso. Aqui Gaulier trabalhava os princípios técnicos mais claramente com todos os atores: pontos fixos, tempos de cena, espaço necessário entre as máscaras, a posição do nariz da máscara (sempre pedindo que colocássemos um pouco acima da linha do horizonte), a curva dramática da cena etc. É possível reconhecer alguns princípios que guiaram o trabalho dos atores com as Larvárias, princípios colocados por Gaulier em aula ao longo das práticas realizadas:

- O ator deve mostrar a máscara: este é o mais basal dos princípios para se trabalhar com as larvárias e também com as demais máscaras. Mostrar a máscara, na verdade, abrange tanto elementos estritamente técnicos, como aqueles vinculados à frontalidade da atuação e ao ponto fixo no corpo e na máscara, quanto não querer ser melhor do que a máscara, não chegar com uma idéia a ser executada com a máscara, mas deixar que a máscara guie as idéias.

- O Ponto Fixo: se o corpo move, a máscara é fixa. Se a máscara move, o corpo é fixo. Este era um dos princípios mais retomados por Gaulier. Se tudo se move no ator, a máscara não aparece. Por mais abstrata que a máscara possa ser, o jogo do ator tem que ser claro, e, muito disso tem a ver com os pontos fixos que o ator confere à máscara e ao seu corpo.


- O espaço entre as máscaras: por terem uma força expressiva grandiosa, as larvárias necessitam um espaço entre elas mesmas e entre elas e a platéia. Este espaço é como a margem necessária que permite ao espectador visualizar um certo contorno de uma máscara larvária em cena, um espaço de “respiro” entre duas ou mais máscaras, o que permite um contraste visual e o jogo dos atores entre si e com o espaço. Se muito próximas, uma máscara larvária tende a “eliminar” a outra, diminuir sua força expressiva. Claro que isso não deve ser lido como uma regra absolutamente estática, pois, se um jogo interessante leva as máscaras a se aproximarem uma da outra em determinado momento, não há porque refrear este impulso. Mas este espaço é característico das Larvárias, na Commédia dell’Arte, por exemplo, não há a mesma necessidade de distância entre as máscaras.

- Algumas máscaras podem oferecer caminhos e maneiras de jogar com elas, mas muito deve ser descoberto na relação com a platéia.

- Não ser “natural” com as máscaras: O que não quer dizer que uma cena não pode ser feita dentro de um contexto mais “realista”. Philippe constantemente nos falava desta espécie de “consciência da máscara”, algo que tem a ver com uma idéia de ator-manipulador (que, aliás, perpassou a Tragédia e o workshop de Characters), isto é, não se coloca uma máscara para se agir com um “corpo cotidiano”, ao colocá-la, é como se houvesse uma espécie de descolamento entre uma parte do ator que executa e uma parte do ator que calcula o que está executando. Mas CUIDADO!!! Não estou aqui falando de uma bipartição cartesiana do tipo corpo-mente, o tal cálculo ao qual me reporto é fruto de um estado não puramente racional, deve vir de um entrelaçar entre intelecto e sensível, um amálgama microperceptivo, como se a intuição fosse um carro que trafega numa estrada construída com cálculos precisos pelo ator.

- Seguir a Máscara: Não conseguir enxergar bem sob a máscara larvária nos deixa um pouco perdidos, sem orientação, o que, todavia, por vezes é um ponto muito interessante no que diz respeito à criação. O fato de não conseguir ver, inicialmente levava todos os atores a jogar com esta situação de forma cômica, quando a platéia ria dos momentos em que o ator não fazia a mínima idéia de onde estava, e, por isso, por vezes se batia em algum objeto disposto em cena ou coisa parecida. Mas este é o primeiro mote de jogo. Passadas as primeiras incursões, os jogos com as larvárias ficaram nitidamente mais interessantes, quando o fato de estar perdido em cena deixou de ter graça, uma outra espécie de jogo mais sutil muitas vezes podia ser visto. É como se na impossibilidade de ver, no corte da visão, um estado que na falta de outra palavra melhor arrisco a chamar de intuitivo (sabendo de todo o risco que a palavra “intuição” traz a esta reflexão) apoderava-se dos atores com maior propriedade, e, quando isso acontecia, é que conseguíamos perceber aquilo que Philippe muitas vezes chama de “seguir a máscara”, isto é, quando você faz coisas com uma consciência parcialmente obscurecida, não sabe muito bem o que faz e como isso está se relacionando com a platéia ou com um colega que está em cena com você, mas, quando “intuitivo”, coisas realmente interessantes e inesperadas vêm à tona, seu corpo descobre a máscara, contorna ela, uma figura surge da fricção entre ator e máscara. Ao mesmo tempo isso não tem a ver com um transe onde o racional é totalmente colocado de lado, pois, a todo tempo, o ator intui dentro de um campo construído por princípios técnicos: a frontalidade, o nariz da máscara como guia, o bom uso do espaço etc.


Bem, creio que com as informações acima é possível se ter uma noção do trabalho com as máscaras larvárias.Para quem gostaria de saber mais sobre este trabalho, vale a pena procurar escritos de e/ou sobre Jacques Lecoq, homem que introduziu-as no universo teatral.


COMMEDIA DELL’ ARTE:

O território seguinte no qual adentramos foi a Commedia dell’arte. Resumidamente, a Commédia dell’arte é um gênero de teatro improvisado que tem raízes na idade média, na região da Itália. No gênero estão presentes diferentes personagens-tipo, ou, como nós atores costumamos dizer, diferentes máscaras: Arlequim, Dottore, Pantaleão, Brighela, etc. Pra quem não tem a referência, vale a pena jogar “Commédia dell Arte” no Google, milhares de referências aparecerão e com certeza você vai lembrar de alguma vez já ter ouvido falar na CDA ou em algum de seus personagens.
E a Commedia dell Arte com Philippe? No primeiro dia de trabalho com a CDA, Philippe contextualizou brevemente do que a Commedia Dell Arte se tratava, e, sem se prolongar em explicações, já nos propôs improvisações com as máscaras. Todo o trabalho com a CDA consiste na proposição de uma situação onde um ator, portando a máscara focada naquele momento, entra em cena a fim de estabelecer um jogo relacionado à lógica de seu personagem, e, assim, tentar descobrir a sua forma de jogar aquele personagem, de ser “bonito” portando uma determinada máscara. Assim, por exemplo, no primeiro dia trabalhamos a figura do Capitão na seguinte situação improvisacional:
8 mulheres (ou 8 homens) vão para as coxias. Uma por vez entra em cena para lavar suas roupas nas margens de um rio. Estas mulheres devem ser charmosas e entrar alegremente, como se viessem de uma noite ótima de sexo com os seus respectivos maridos. Depois que estas 8 atrizes já estabeleceram o início da improvisação, num jogo entre elas próprias onde comentam sobre homens, sobre sua vida amorosa com eles etc, entra então Capitão em cena e tenta estabelecer um jogo cujo o principal objetivo é transar com todas as mulheres que estão ali a lavar suas roupas. Para isso, Capitão pode entrar e falar sobre suas proezas, suas batalhas vencidas, sua coragem etc, mas, no plano ficcional deste jogo, o que deve estar claro, é, antes de tudo, sua intenção em devorar todas aquelas mulheres, e, no “plano técnico”, digamos assim, o principal que o ator tem a fazer é MOSTRAR A MÁSCARA, isto é, trabalhar para a máscara, colocá-la em diversas situações. Numa situação como esta, Philippe então vai trabalhando no sentido de construir com o ator a lógica do personagem, e, concomitantemente, os aspectos técnicos que fazem com que a máscara esteja em primeiro plano em cada improvisação, vejamos alguns destes aspectos:
- o nariz para cima, sempre. Não só para cima, mas o nariz como a guia da máscara, o foco dela.
- a movimentação adequada da máscara: quando o ator move a máscara é sempre para mostrá-la em alguma situação, nunca move ela sem sentido
- o ponto fixo no corpo quando a máscara move e na máscara quando é o corpo que está se movendo. É bom sinalizar que este não é um aspecto estático, não quer dizer que nunca o corpo e a máscara possam se mover ao mesmo tempo, mas se trata de se ter sempre stops nas máscaras para que o público as reconheça, para que elas comecem a existir na imaginação do público como seres possíveis. Se o ator nunca pára, a máscara não passa de um borro em cena, os pontos fixos servem para clareá-la, dar-lhe um melhor delineamento, além de darem tempo necessário ao espectador, convocando sua imaginação.
- a necessidade de descobrir a máscara: em primeiro plano você tem que descobrir a máscara na relação que esta tem com a platéia e com o contexto improvisacional em que ela está jogando e não fazer o que Philippe chama de “personagenzinho”. Em muitas propostas, alguns atores entravam com uma idéia muito demarcada de como atuar como Pantaleão, por exemplo, tendo uma maneira de se mover X, uma voz Y, de forma com que a máscara era apenas um acessório decorativo na face de uma figura que já entrava em cena bastante fechada em si mesma. E aí está uma questão bastante importante no trabalho com as máscaras em geral, que Nicole Kehrberger (professora de movimento que substituía Gaulier nas quintas-feiras) nos disse: “quando o ator quer ser mais interessante do que a máscara, a máscara morre. Para a máscara viver, você tem que trabalhar para ela”.

- Philippe também nos falava do cuidado que temos que ter com as “Idéias”, ou seja, de quando temos uma idéia e entramos em cena para executá-la com a máscara, o que geralmente acarretava em, enquanto público, vermos a idéia que o ator teve mas não a máscara que portava. Philippe dizia: “a boa idéia é aquela que desaparece em cena”, ou seja, não queremos dizer de um ator “hm, olha que boa idéia que ele teve”, mas sim “olha, que magnífico que é este ator em cena” ou “que personagem maravilhoso é este”... Para chegar a este segundo e mais interessante território, a frase que mais ouvimos de Philippe foi “vocês devem mostrar a máscara”...


Philippe nunca fecha questões sobre cada personagem da CDA. Dá apenas alguns indícios e imagens como estímulo para o ator criar em cima, assim o Capitão pode ser criado tendo como imagem primeira os soldados da guarda inglesa, um galanteador que quer transar com o maior número de mulheres possível; o Dottore é um “Wanker” (punheteiro), alguém como estes pseudo-intelectuais de plantão prontos a te dar uma palestra de auto-ajuda e falar sobre a vida através dos clichês mais absurdos (podemos pensar em alguns apresentadores de programas de família que passam nas tardes da TV aberta brasileira, em pastores de determinadas religiões, ou em Tom Cruise no filme Magnólia), o Arlequim pode ser um peão de fazenda, grosseiro e ao mesmo tempo querido, e por aí vai... Todas as máscaras são também trabalhadas pelas atrizes numa versão feminina, assim temos madames Capitano, madames Arlequim, madames Pantaleão etc. O trabalho com Commédia Dell Arte de Philippe é bastante livre em termos de imaginário acerca deste universo, nunca ouvimos de Philippe que teríamos que fazer o Arlequim assim ou assado, o Pantaleão desta ou daquela maneira... Mas Philippe seguiu mantendo seu rigor principalmente no que diz respeito ao prazer que temos que ter em jogar neste território, o que para ele é definitivamente mais importante do que despejar sobre nós séculos de tradição da CDA ao qual teríamos que dar conta atuando sobre as máscaras. Aliás, Philippe, depois de ter trabalhado com um ator sobre o Arlequim, transformando uma forma mais tradicional que este ator assumia em algo novo (quando deu a imagem de um trabalhador de uma fazenda), comentou “eu não gosto de nada clássico”. E isso pode ser visto desde o trabalho com tragédia e com as figuras que ele deu para cada ator trabalhar no território trágico. Depois ouvimos de Nicole que na escola não estamos aprendendo o “estilo trágico” ou o “estilo de Commedia dell Arte”,ou o “estilo melodramático” etc, mas sim, estamos ali para aprender como nós podemos ser “bonitos” (belos, presentes, interessantes etc) fazendo tragédia, como nós podemos ser bonitos fazendo Commédia dell arte, fazendo melodrama e por aí vai. Ao conversar com colegas de escola, posso dizer que compartilhamos de uma sensação - a de que estamos aprendendo a mesma coisa a cada workshop que passa, algo muito especial e extremamente pessoal, antes de aprendermos sobre um estilo X ou Y, aprendemos sobre nós mesmos, um exercício de tentar ser luminoso em cena todos os dias, um exercício de doação, de contágio.




NOSSAS MÁSCARAS:

Um terceiro momento do Mask Plays foi dedicado ao trabalho com máscaras que nós mesmos fizemos. Penso que a idéia de Philippe foi nos introduzir ao trabalho de máscaras com as Larvárias e com a Commédia Dell Arte, para neste terceiro momento nos dar a liberdade de confeccionar a máscara que quiséssemos. Segundo Philippe, por vezes um ator pode encontrar mais liberdade e prazer em atuar com uma máscara que ele mesmo criou do que com uma criada por outra pessoa. Philippe pediu-nos para fazermos meias-máscaras, para que pudéssemos falar sob nossas máscaras. Não tivemos nenhuma aula ou dica técnica de como confeccionar as máscaras, tivemos que inventar nossas próprias técnicas. Confesso que quando soube que teríamos que fazer isso fiquei com bastante receio de fazer uma máscara meramente decorativa, pois já sabia de antemão que não é tão fácil fazer uma máscara que funcione em cena. Aprendemos nas Larvárias e na Commédia Dell Arte que a boa máscara é aquela que muda de expressão conforme as mudanças do corpo do ator. Creio que isso guiou as confecções de todos os atores em suas máscaras, e os resultados foram muito melhores do que o que antes eu imaginava. Todos os aspectos acima expostos: pontos fixos, nariz como guia da máscara, relação com a platéia, descobrir a máscara em cena etc, foram aqui retomados. Trabalhamos tanto com as máscaras que nós mesmos fizemos como com as que os nossos colegas fizeram. Alguns atores se encontraram mais em suas próprias máscaras e outros nas máscaras dos colegas. No meu caso posso dizer que me encontrei melhor com a minha própria máscara. Embora não esteja querendo restringir o foco sobre mim nos textos sobre os workshops, coloco aqui uma impressão que registrei em meu caderno de notas logo após a 2ª ou 3ª vez que fiz um exercício com minha máscara e quando penso que de fato encontrei uma via para segui-la:

“hoje fiz um exercício com a minha máscara e entrei quase sem idéia do que faria em cena. Pensei que Philippe faria como ontem, quando pediu para quem confeccionou mostrar sua máscara e perguntou aos outros atores quem gostaria de fazer o exercício com cada. Mas hoje Philippe nos surpreendeu, pediu para que nós mesmos fizéssemos o exercício com as máscaras que confeccionamos. Tentei então sem intenções pré-concebidas mostrar a máscara e deixar que aos poucos o jogo com Philippe e com Nicole rolasse. Em princípio eu não queria fazer este exercício com a minha máscara, mas acho que esta falta de intenção em fazer algo abriu minha escuta pras possibilidades totais que o momento da cena me oferecia. E foi ótimo! Parece que sensivelmente entendi por onde a minha máscara pode jogar e que figura ela me sugere.”
(Rodrigo, 25/01/2011)

Esta figura pode ser conferida no vídeo que coloco abaixo, quando fiz uma outra improvisação, um ou dois dias depois do dia descrito acima. Nesta improvisação já havia então agregado uma roupa (bem básica) e uma peruca, elementos que achei serem complementares à figura em questão.
Pra finalizar, na última semana fizemos uma série de exercícios onde podíamos atuar com quaisquer máscaras que quiséssemos: Larvárias, Commédia Dell arte ou nossas máscaras, e também cada ator preparou (sozinhos, em duplas e/ou trios) uma apresentação com máscaras, apresentações comentadas e trabalhadas em tempo real por Gaulier.
Antes de fechar este texto, devo dizer que o MISTER FLOP esteve muito presente no trabalho com as máscaras. No texto sobre Le Jeu falei um pouco do que é o FLOP e não vou retomá-lo em seus detalhes aqui. O importante é dizer que em muitas vezes este “estado de fracasso” assumido pelo ator em cena, quando tenta fazer coisas que definitivamente “não funcionam”, apareceu bastante no workshop de máscaras e Gaulier fez verdadeiros milagres com atores quando estes estavam “flopando abertos”, sem negar o fracasso, isto é, muitas vezes coisas realmente interessantes surgiam exatamente deste território.

Bueno, já me alonguei em demasia aqui. As vezes tenho o problema de começar a escrever e não conseguir mais parar, devo ser mais sintético, mãããs... Enfim, são tantos os elementos... E a vontade de compartilhar também é grande! Em breve postarei o texto sobre Characters, workshop que finalizamos na última sexta. Um beijo para todos!!! Saudades do Brasil,
Rodrigo.


VÍDEO DE IMPROVISAÇÃO COM UMA ATRIZ AMERICANA E COMIGO NA ECOLE PHILIPPE GAULIER: