Este projeto foi contemplado pela Fundação Nacional de Artes – FUNARTE no edital Bolsa Funarte de Residências em Artes Cênicas 2010.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

1º DIA. ALGUMAS QUESTÕES DESDOBRADAS E DESDOBRÁVEIS


Primeiro dia de aula com Gaulier, módulo Le Jeu. Ansiedade, medo, vontade de jogar, expectativa lá em cima!!! Colegas da Austrália, França, Inglaterra, Nova Zelândia, China, Espanha, Portugal, EUA, Suiça e mais três brasileiros além de mim. A turma é jovem e bastante disponível, mais vontade de jogar!!!


Cumplicidade: uma das questões mais importantes e pontuadas por Gaulier em toda esta primeira aula. Acima de tudo é necessário ser cúmplice do seu colega de cena. Dentro do grande guarda-chuva aberto e contemplado pelo termo “Jogo” proposto neste projeto, a cumplicidade relacionada à idéia de Jogo proveniente de Gaulier começou a ser abordada principalmente entre um colega e outro. Ainda não aprofundamos esta idéia em relação à platéia, parece ser este último um passo a ser dado mais adiante em Le Jeu. Se divertir dançando com seu parceiro ou achá-lo chato e se chatear com ele... Acusá-lo de ser chato quando Gaulier pergunta... Manter uma bola de tênis entre a sua testa e a testa do colega, construindo antes a cumplicidade e a calma para que a partir disso, de uma escuta que eu diria ser muito afinada se de fato ativada, fazer evoluções e danças divertidas pelo espaço... Tudo muito simples, mas de uma simplicidade que em si guarda toda a potência do que pode vir a ser um jogo teatral. Parecia que todos sabíamos ali que não estávamos ainda fazendo teatro, mas sim construindo as bases de um jogo que pode resultar num bom teatro, onde a relação de parceria entre os atores pode convidar mais adiante outros. Outra questão por vezes pontuada foi o prazer... Basicamente o prazer é o lado oposto de um pêndulo que balança entre ele próprio e a chatice... Ou se está com prazer ou se está chato, não existe muito um meio termo... Agora um pouco da desmistificação da figura Gaulier. Confesso que principalmente por não estar fluente no inglês, eu estava com certo medo dele, pois muito já ouvi sobre sua lógica de “desconstrução do ator”, de atingir seus pontos frágeis e blábláblá... Embora hoje tenha sido apenas o primeiro dia de uma jornada de 8 meses com P.G., é interessante pontuar que em suas ironias e deboches dos atores, Gaulier consegue ser ao mesmo tempo muito gentil, delicado, sempre divertido e nunca ofensivo. Voilá, é apenas o primeiro dia! Mas, de qualquer forma, arrisco a dizer que mesmo em seus pequenos momentos de aspereza, Gaulier, como todo grande mestre, consegue deixar espaço pra que o ator não trave. Independentemente da língua, da cultura, das crenças, Gaulier parece querer que o ator crie. Então, criemos!!!

Bem amigos, por hoje era isso! Aos poucos deixarei mais pedaços deste caminho que farei aqui, sigam-me os bons!!!
;)

Entre estilos, zonas de jogo... um pouco mais


Olá amigos e interessados neste blog!!!
De início, gostaria de esclarecer melhor o que o projeto divulgado neste blog aborda. Bem, primeiramente é necessário dizer que faz alguns anos que me interesso pela figura de Philippe Gaulier e seu trabalho com atores. Foi isso que me levou a escrever um projeto de residência em artes cênicas para a Funarte, pelo qual fui contemplado com uma bolsa que bancará minha estadia no velho mundo. Pra quem não Gaulier, o mesmo é um dos grandes mestres da arte do ator na atualidade, e, para muitos, está vinculado a uma corrente que costumou-se chamar "teatro físico". Não vou esgotar o assunto Philippe Gaulier neste momento, pois ao longo dos 8 meses que passarei aqui na França Gaulier cruzará provavelmente a maior parte das postagens que aqui realizarei. Cabe fazer uma pesquisa básica no Google com seu nome para obter maiores informações sobre a história e o trabalho de P.G. Resumidamente, o essencial a se saber é que Gaulier formou-se e trabalhou por dez anos junto à Jacques Lecoq em sua escola internacional. Depois deste tempo, abriu uma escola junto a outra professora da Ecole Jacques Lecoq, Monika Pagneux, com quem por mais dez anos ensinou teatro, e, após este período, abriu sua própria escola que já teve sede em Londres e agora está de volta à Paris. Em geral, a maior parte das pessoas conhece Gaulier por seu trabalho com o Clown, mas o mestre não se esgota neste território. Em sua escola, além do Clown, Gaulier aborda os seguintes territórios: Bufão, O Jogo, Máscara Neutra, Tragédia Grega, Jogo de Máscaras (não tenho certeza, mas penso que hoje ele acoplou neste módulo as diferentes máscaras que abordava como as Larvárias, Expressivas, Commedia dell'Arte etc), Personagem, Melodrama, Shakespeare/Tchekhov. Com exceção ao Bufão e ao Clown, em minha incursão na Ecole Philippe Gaulier realizarei todos os outros workshops acima referidos, o que corresponderia à formação direcionada aos alunos do "primeiro ano" de sua escola, sendo que o Clown e o Bufão fazem parte do 2º ano de formação. Ah, ainda no primeiro ano de formação, o encerramento se dá com o workshop "Escrevendo e dirigindo", que propicia ao aprendiz uma experiência no campo da dramaturgia ou da direção, sendo que os trabalhos são realizados com os próprios colegas da turma. Este último módulo também não realizarei em princípio, pois o prazo de execução do meu projeto estouraria caso eu o fizesse...
Bueno, e do que se trata este projeto? Pra responder esta questão, é necessário dizer que um denominador comum de todos os territórios abordados por Gaulier é o Jogo. E o que isso quer dizer? Acima de tudo, isso significa que em quaisquer territórios dramáticos, para Gaulier o que importa é que o ator esteja jogando: o ator joga uma tragédia grega, joga Tchekhov, joga Shakespeare e assim por diante. Espremendo o "bagaço jogo", é possível extrair o denominador do denominador - o prazer: no território dramático em que estiver inserido, o ator deve antes de tudo divertir-se e ter prazer, o que, poderíamos dizer, sustenta a sua presença e àquilo que talvez Grotowski chamaria de Contato (ator-ator e ator-público). Portanto, este projeto se trata de uma incursão minha nos diversos territórios abordados na Ecole (O Jogo, Máscara Neutra, Tragédia Grega, Jogo de máscaras, Personagem, Melodrama, Shakespeare e Tchekhov) a fim de aprender um pouco mais sobre este tipo de jogo que perpassa todo o ensino de Gaulier.
Desculpem-me os mais organizados, coisa que eu não sou muito, mas em breve escreverei um resumo do processo empreendido pra vir à Paris legalmente como estudante. Enfim, são vários pequenos passos... A correria dos últimos tempos não permitiu uma atenção maior a isso. Outro assunto que em breve abordarei aqui é a minha chegada em Paris. Aliás, a nossa chegada em Paris, pois tive a sorte de vir com uma amiga que ganhou a mesma bolsa que eu, está fazendo este primeiro módulo (Le Jeu) da Ecole comigo, porém fará os cursos de Clown e Bufão, isto é, o “segundo ano” da escola. O nome dela é Roberta Casa Nova, e aqui está o blog dela para os interessados em acompanhar a sua experiência: http://www.aves-sou.blogspot.com/
Bueno, ofereci um aperitivo até aqui! Tenho coisas pendentes que ainda quero postar, além de tudo o que virá! Aceito sugestões de passeios por aqui, críticas ao blog, comentários diversos, fiquem à vontatde!!! Estou muito longe de ser um blogueiro profissional, espero melhorar ao longo nos próximos tempos! Beijos em todos, saudades de muitos...

PARIS!!! UMA IMAGEM VALE MAIS...